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Mostrando postagens de agosto, 2009

Sangue, culpa e água

Afundo na água, sinto um peso me puxando para baixo, acho que é do corpo a principio, segundos depois percebo que o que me pesa tanto é o coração, cansado, machucado, obscuro. Há também algo que me puxa para cima, talvez seja a leveza de uma alma que, contra todo o resto, precisa e quer continuar. A alma aprendeu a estancar seu sangue, a cuidar das cicatrizes. O coração ainda sangra, marcas pelo corpo, cicatrizes, hematomas. Por mais que as marcas da vida sejam belas, contem histórias perdidas na noite, tento disfarçar as marcas como posso. Mas como disfarçar essas cicatrizes, vindas de cortes tão profundos, de feridas tão doloridas? O conflito entre meu coração e minha alma, um me puxando para baixo, outra para cima, me deixa ainda mais cansada. Tira meu fôlego literalmente, minha pele formiga. Meu estômago, vazio, reclama. Minha boca se recusa a cooperar, minha garganta se fecha e, o vômito me diz que é melhor nem tentar. O ar que se infiltra em meu pulmão não traz a mesma vida, vem

Um dia

Na próxima manhã abra os olhos e encare o espelho. Permita-se enxergar além da pele que encobre a essência. Penetre no seu próprio âmago e, marque um encontro com a única pessoa que você tem que conviver para todo o sempre. Enxergue-se sem meias verdades, sem vergonhas, sem hipocrisia. Veja toda a escuridão e imundice que infestam sua alma, todo ódio e inveja que sente. Permita-se isso sem juízos, sem desculpas ou justificativas. Não torça o nariz para quem você, olhe, perceba, aceite e só então, decida o que quer mudar. Nesse mesmo dia saia de casa, desligue o computador, a tv, feche todos os livros. Desligue o celular, o mp3. Esqueça tudo e todos e encare seus olhos no fundo de um riacho ou lago. Mergulhe em você mesmo, só não se afogue. Beba da sua alma e permita-se sentir com vontade tudo que carrega no coração. Olhe para toda luz que você carrega, todo o amor e admiração. Também não se julgue nisso, só se observe. Principalmente não julgue o outro por não corresponder, ou não reco

Ela

Tinha olhos vivos demais. Era a primeira coisa que vinha a minha cabeça ao me lembrar, daqueles olhos cheios de expressão e sentimento. Era tanta vida que era difícil suportar. E aquele sorriso aberto? Quem podia com aquele sorriso aberto, pronto para dizer que tudo vai ficar bem? Ela não era bonita, não precisava. Agora quando lembro dela fico feliz de que não fosse bela, se fosse seria perfeita demais. Sua escrita era mais cheia que a minha, seus olhos carregavam sua alma, o sorriso brilhava de esperança. Ela era quem eu queria ser, e por isso, a odiava tanto quanto a amava. Agora já não passam de lembranças.

Liberdade

A manhã nasceu com um cheiro diferente, filha de uma noite normal e recheada de tédio. Não havia nenhum sinal da noite vazia naquela manhã cheia de cor e magia. O principal era mesmo o cheiro, diferente, único, daqueles que impregna e preenche todo o corpo. Era cheiro de vida que a manhã emanava. Antes de acordar a menina já tinha percebido aquele cheiro e, antes que a luz alcançasse seus olhos ela via as cores maravilhosas que aquele dia reservava. E todo esse clima fez com que ela se sentisse diferente, mais viva, mais colorida também e, o cheiro da manhã se tornou o cheiro dela. A luz do sol matutino era daquele amarelo aquarela que deixa tudo mais iluminado, trazia aquele calor gostoso de sentir e ela se deliciou com cada raio de sol que incidiu em sua pele. Ela se levantou rápido para aproveitar cada gota daquele dia. Primeiro foi a varanda e olhou a gaiola de ouro que era a casa daquele pássaro multicolorido. O pássaro continuava lindo e, cantava deliciosamente. Mas ela sentiu um

Viver da arte

Acordar e começar um novo roteiro, abrir os olhos e permitir que a poesia os ilumine mais uma vez. Levantar em uma coreografia sem ensaio, andar flutuando, sem tocar o chão, acariciando as nuvens. A roupa vestida, um quadro. Cada olhar mais atencioso e delicado, uma fotografia. Os trajetos diários: curtas, longas, ou videoclipes da música silenciosa que ronda sua mente, que cantarola como se fosse um clássico que acabou de nascer. Tocar o mundo e sentir a textura, sentir o pulsar da pedra fria e, o calor do tronco da árvore. Esculturas vivas, que mesmo imóveis respiram. Relatos imaginários ou não de uma artista frustrada, que se não pode criar tenta viver dentro da arte, tentando ser a Arte. Criando personagens que consome, que a consomem, personagens que se consomem... personagens tão irreais que se tornam um pedacinho da sua realidade inventada.

Feliz

Dever cumprido, sangue doado... e mais um monte de dever para cumprir, muito sangue ainda corre aqui para doar, para entregar. Já não o desperdiço em textos tão mórbidos, nem escorrem mais pelas minhas unhas imundas. Aproveitando para crescer, para mudar, transformar, aproveitando dias ruins e também os bons para chegar mais perto de quem eu quero ser. A gente se encontra por lá... onde os sonhos se realizam e as vontades se concretizam.