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Mostrando postagens de novembro, 2009

Poesia em tecido

Houve um tempo em que meus olhos brilhavam só de ler uma linha qualquer bem escrita, e um arrepio frio percorria minha pele quando essa linha era minha. Era um tempo em que escrever era mais que prazer, era necessidade. Minha mente viajava em busca de um novo tema, que nem sempre alcançava. Mas ela não parava até sujar uma folha, mesmo que com palavras desconexas. Hoje essa necessidade não é tão forte, mas existe. E junto dela uma outra vem se instalando, essa necessidade não deixa minhas mãos ficarem quietas, me joga um peso no peito e um vazio no estômago. Nasci com essa sede de criar, e o que antes era letra, tornou-se linha. Essa linha vem me cobrando atenção, e ela não quer só um rabisco virtual. Ela quer trabalho duro, quer meus dedos concentrados em uma dança de agulhas, acompanhadas do créc-créc da tesoura pelo tecido. Preciso sentir o cheiro da criação: tecido, papel, linha, cola. Ouvir os dedos roçando em texturas. Encher os olhos de cores e estampas. Preciso criar. En

Ego

Pegou no colo com cuidado de mãe, ajeitou os braços com delicadeza para deixá-lo mais confortável. Eles tinham-no machucado tanto, feridas abertas sangravam em volta dele. Uma lágrima escorreu do rosto dela, passou a costa das mãos e secou. Não iria deixar assim! Ninou aquela criaturinha tão frágil com cantigas decoradas, a letra falava de tudo que os dois, juntos, eram capazes de fazer. Coisas boas, algumas nem tanto, que já tinham feito. Todas as vitórias foram lembradas, uma a uma. Aos poucos ele foi melhorando, os ferimentos eram profundos, mas ela foi curando um a um. Justificativa atrás de justificativa, ela mostrava os motivos para ele não se entristecer. Prometeu que iria corrigir tudo aquilo e, que ninguém que o machucasse, ficaria impune. Iriam mostrar, juntos, que nada do que aqueles estranhos diziam era verdade.