Meu baú

Encarei minha alma de frente, fixei os olhos em meu coração, busquei no lugar mais fundo, no canto mais escuro de mim. Vasculhei lembranças, [re]organizei pensamentos.

Encontrei pó e caixas fechadas, segredos trancafiados contrastando com portas escancaradas, fotografias desbotadas coladas em papéis velhos cheirando a mofo.

Passei por tudo isso e fui mais fundo, encontrei um baú negro como ébano com um cadeado que reluzia. Não havia um milímetro de pó naquela caixa enorme, parecia ter sido colocado a pouco.

Forcei a tampa, ela não abriu, puxei o cadeado e era de aço, aquele baú todo era imponente, parecia impossível de se abrir.

Senti um peso no pescoço, uma corrente pendurada que eu nunca havia visto, a corrente era comum, mas havia um pingente em forma de chave. Não, era uma chave realmente, bonita e floreada. Segurei e senti como era gelada, firme, como o aço do cadeado.

Tirei o colar e testei a chave no cadeado, encaixou.

Um vento gelado bateu em meu rosto e deixou um peso em meu coração, senti uma angústia fechando minha garganta, algo amarrando meus pulmões. Senti medo e dor regados com frio.

Era como a caixa de Pandora, mas eu não podia deixar de abri-la. Meus segredos deviam estar ali, minhas vontades, meus sonhos, meus desejos...todas as respostas que sempre procurei em vão. Era preciso abrir, por mais horrendo que pudesse ser, era preciso encarar-,e de frente, sem rodeios, sem meias-palavras.

Abri.

O baú estava vazio! Não havia um misera resposta, um pequeno sonho, não havia nada ali.

Senti as lágrimas caindo, aquecendo meu rosto, meus lábios contraindo, cerrei os dentes e chorei até não haver mais nada em mim, até tudo que eu tinha de bom ou de ruim se esvair em líquido pelos olhos.

Recostei-me nas paredes da minha alma, e respirei fundo, aspirei aquele ar fétido e tentei limpar meus pensamentos.

Foi quando vi, um número gravado ao lado da caixa, parecia feito com canivete, era fundo e torto. Passei os dedos pelos sulcos na madeira contornando as marcas do número quatro. Suspirei como se me sentisse aliviada, alguma coisa sobre mim era revelada. Olhei novamente o baú e havia um papel rasgado, em marcas quase imperceptíveis li a sentença: INVEJA.

Era eu...era meu...a inveja.

Não era uma resposta, não era um sonho ou um desejo, mas era uma paixão, uma fixação. Era algo, era palpável...era o início de uma nova caminhada.


Quer encontrar seu baú? Procure por eneagrama!

Comentários

Sinto-me refeita cada vez que venho até aqui. Sinto-me ligada a cada linha, por que as emoções transcritas se difundem com as minhas necessidades que, nem mesmo quem me vê é capaz de dizer tudo o que dizes sobre mim.
Sabe aquela estória que sempre acontece quando se lê um texto definitivamente bom, e nós, meros leitores, o toma pra si? Acabo de fazê-lo. Como em outras e tantas de dias anteriores.
Saudades de te ler.

E acredita: o que é conto pode ou não ser lembranças. Talvez, não conscientes lembranças. Mas lembranças!

Beijão guria! Adoro te ler!!!!!!!!!!!!!
Anônimo disse…
Arrepiante! Só isso que posso dizer!Parabéns!
Juliana disse…
Todos nós temos nossos baús escondidos, com sombras, medos, não-revelados. Atrever-se a abrir, perceber que já carregamos a chave, olhar mais profundamente em busca das respostas... Bela metáfora sobre auto-conhecimento!

Vim retribuir a visita feita ao meu blog e gostei de poder conhecer seu espaço!

Abraços!
Rô Rezende disse…
Fabíola Weykamp: Adoro ler seus comentários, tantas vezes mais ricos que os meus textos rsrs...além de sempre me deixarem muito feliz!!!
Tome sempre que quiser, são feitos para isso...

É verdade...lembranças muito distantes!

Bjos...e idem!!

Vinícius Aguiar: Obrigada, moço!!!


Juliana: Seja sempre bem-vinda por aqui!!

Obrigada, você captou bem a idéia do texto!! Pena que não consegui deixá-lo mais poético!

Abraços
Arthur Silva disse…
Nossa Rô, seu texto está ótimo.
Carregado de misticismos(ou estou engando?) e bastante introspectivo. Lindo.
Poesia Pura

Vou pesquisar: eneagrama
agora não, pq to morrendo de sono.
Boa noite.
Rô Rezende disse…
Arthur Silva: Pode ser misticismo, psicologia ou tantas outros termos, isso depende do leitor, moço! Mas acredito que tudo que eu escrevo tem muito de misticismo sim, mesmo que sem querer! rs

Obrigada...sempre bom saber que tocou alguém!

Pesquise sim, auto-conhecimento é uma dádiva!

Boa tarde! rs
Jacinta Dantas disse…
Ei menina,
passo um tempinho sem vir aqui e quando volto fico maravilhada com o que acabo de ler. E, vejo-me baú nas suas letras, quando eu também sou o báu que carrego na vida. Então, assumindo o baú que sou, passo a dar mais atenção e cuidá-lo para que eu seja no hoje, uma pessoa melhor, comigo e com os outros. Assim, aceito bem o baú alheio.
Beijos
Jacinta
Oi! Que surpresa tive ao ler essa postagem, é fantástica, pois diz tudo: muitas vezes não temos coragem de encarar nossos medos e fraquezas, e é justamente ai que erramos, em não encarar! Afinal, quem é que não tem um baú negro escondido nos lugares mais imersos da alma, não é? Faz bem aquele que tem coragem de abrir o seu...
Bom, aproveito para agradecer pelo elogio e pelo incentivo, to começando agora a explorar o mundo dos blogs, ainda tem muita coisa pra melhorar, mas que bom que você gostou.
Rô Rezende disse…
Jacinta: Moça, que lindo comentário! É muito bom quando conseguirmos assumir nosso baú, com tudo que tem dentro! As coisas boas, as lembranças e até aquilo que não é assim tão bom...é o primeiro passo para melhorar!! Melhor que isso, só conseguir aceitar o alheio!!

Bjos

Leo Fernandes: Pois é, moço...encarar os medos, as fraquezas, os defeitos e até mesmo as qualidades não é nada fácil! Blog é uma coisa que sempre tem o que aprender (mesmo pq todo dia aparece coisa nova!) e melhorar, mas é uma delícia! Aproveite!!
Anônimo disse…
Oi, gostei de seu blog. Faz bem, até certo ponto, abrirmos "nosso baú" para tentar fazer com que o ar entre e tire o "mofo", mas a melhor coisa que pode resultar é percebemos que apesar das adversidades somos pessoas vencedoras, pois há pessoas que sequer enxergam o bem ou o mal que fazem a si e aos outros.

Tentei achar seu e-mai para lhe perguntar o no que preciso dar mais destaque em meus posts. Acho que escrevo demais, mas muitas vezes não falo de mim, falo do que vejo.

Uma abraço,

Márcia
Anônimo disse…
Tem coisas que temos que tirar do baú e jogar fora, Rô. Tem que abrir o baú sempre, limpar o que ficou de ruim, enfim... Mas nem sempre a gente consegue, nem sempre temos força pra isso... :(


Saudades!
Beijocas
www.lizziepohlmann.com
Rô Rezende disse…
Márcia: Eu acredito que sempre é bom, precisamos nos encarar de frente, sem medo, sem hipocrisia, sem culpas.

Obrigada pelo comentário, moça!

Abraço

Lizzie: Realmente o mais complicado é achar forças!!

Saudades tmb, moça!

Bjs
Adoro tuas visitas em meu blog.
Estou com saudades de te ler.
E sei, agora, que não tens tempo para o fazer, e fico muitíssimo feliz que o tempo usado é para progressos positivos em tua vida. Que tu sejas muito feliz nessa nova fase.
Um beijo enorme, e fica em paz! :)
Vitor disse…
Ro.. muito massa teu texto que nem parece texto. Parece um quê da verdade guria... heheh

Vim pra cobrar visita no brifando.blogspot.com e no vrosalem.blogspot.com

A senhora não aparece tem tempo.
A casa é sua.

Bjo.
=]
Sinto uma saudade enorme de te ler. Sempre passo pelo teu blog para ver se já voltasses.

Fico muitíssimo feliz quando leio as tuas palavras, seja em textos por aqui, ou em comentários no meu blog. Adoro! Fico muito, muito feliz, Rô.
Saudade enorme!

Beijo bem grande, querida!! :)
Anônimo disse…
Apareça!
Bjitos!
Jacinta Dantas disse…
Ei menina,
saudade de você por aqui e no meu florescer.
Abraços

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