Cicatriz
Os olhos percorreram o espelho enquanto os dedos tateavam a pele e acariciavam as marcas do corpo. Tinha uma ligação estranha com cada uma daquelas imperfeições. Imaginava sua pele como um quadro branco, sem tinta, cada marca era uma pincelada, um capítulo de sua vida. Quando tocava uma cicatriz lembrava exatamente de como ela surgiu, podia até sentir a mesma dor: a pele sendo cortada ou esfolada. Não era uma dor ruim, e sim uma sensação de estar viva, de ser única, de ter uma história. A sua preferida era um corte feito quando era criança. Era tão moleca quanto os irmãos mais velhos e, naquela tarde de primavera, subiu na árvore para comer alguma fruta da época. Estava a uns 3 metros do chão quando o irmão do meio passou correndo pela porta da cozinha gritando seu nome. Assustou-se e perdeu o equilibrio, escorregou e começou a cair, conseguiu se segurar em um galho na metade do trajeto Um galho quebrado havia rasgado a pele e uma parte dele continuava fincado em sua carne. Havia sangu...