Melhor prevenir do que remediar!

Falando de um assunto sério agora, para variar um pouco.

Vi ontem no Fantástico (salve a cultura inútil global!) uma matéria que me deixou com a sensação de estar vivendo dentro de um filme* ou livro**, ou ainda, como uma das entrevistadas comentou, de volta aos tempos da 2ª Guerra Mundial, onde o tio Hitler pintou e bordou com a vida de milhares de pessoas inocentes.

O que me chocou tanto? Foi isso:

Alguns pesquisadores brasileiros decidiram mapear o cérebro e o DNA de detentos da Febem Fundação Casa, para descobrir se a violência vem de algo fisiológico ou se é apenas reflexo da vivência do jovem.
A proposta gaúcha nem bem foi lançada e a polêmica já começou, a oposição acredita que isso seja falta de respeito com os jovens que não são ratos, nem macacos e que isso pode acabar originando um preconceito com algumas características, como ocorreu com as pesquisas de Cesare Lombroso.
Tirando o fato de que se fossem animais a pesquisa também não seria ética, a oposição, ao meu ver está mais que certa.
Nenhuma descoberta real ainda foi feita, mas já há várias suposições, entre elas que o cérebro da pessoa violenta tem partes atrofiadas, com tamanho menor, e isso o torna mais suscetivo aos instintos. Digamos que estejam certos, o que sinceramente acho difícil, e que a pessoa nasça com esse "sinal violento", quanto tempo demorará para que recém-nascidos passem por exames para definir seu "perfil". E as crianças que tenham isso, o que será feito com elas? Medicação, tratamento e o que mais?
Não seria essa uma nova característica, logo um novo preconceito? Uma nova eliminação nos processos seletivos escolares e profissionais?
Você pode dizer que estou olhando longe demais, que se isso acontecer demorará anos e anos, mas isso é o início de tudo, essa pesquisa e várias outras que já estão sendo feitas ou apenas planejadas.
Quantas pessoas poderão sofrer as consequências futuras dessa pesquisa? Quantas vezes ouviremos "É melhor prevenir do que remediar" quando examinarem nossos filhos, netos, bisnetos?

Os pesquisadores querem encontrar um "defeito de fábrica", quando o problema é muito mais social do que de saúde. O meio social, a família, a vivência pessoal é muito mais determinante na violência de uma pessoa, claro, que a natureza conta também, mas não é um fator único e, talvez conte menos do que o resto.

Só que se eles encontrarem uma diferenciação, algo que os violentos tenham mais, pode ter certeza que todo resto deixará de contar, e apenas o físico contará. As pessoas com esse "sinal" serão excluídas, de várias formas, tachados de criminosos antes de qualquer crime, e recebendo esse tipo de tratamento se revoltarão e talvez se tornem realmente violentos, "comprovando" a tese.
Nunca fui muito boa em textos sérios, mas é isso, tentei, agora é sua vez: O que acha do mapeamento do cérebro e DNA de criminosos?


* Gattaca – A Experiência Genética, de Andrew Niccol (1997)

[EDIT] Acabei de lembrar que o Fantástico fez uma enquete, se deveria ou não fazer a pesquisa, 90% dos votos foi para SIM. [/EDIT]

Comentários

Geovane disse…
Eu era muito pequeno e não lembro quem foi que me falou isso, mas aqui está: "Se bem queres a verdade e estás a perguntar sobre coisas que ainda não sabes, pensa antes se a resposta da tua pergunta é útil; se não for, desista dela: ela não tem nada a ver com a verdade."
Acredito que tu tenhas colocado argumentos muito interessantes contra essa aberração que querem reinserir na nossa história.
Pressão da sociedade e isso não vai retornar.
Há cientistas que não estão nem um pouco interessado nos outros, mas sim no que podem comprovar ou não.
Rô Rezende disse…
Geovane: Bem colocado isso do pouco interesse de alguns cientistas na pessoa, eles parecem só ver o ser humano como algo a mais para ser estudado! Obrigada pela opinião, volte sempre! :)
*Lusinha* disse…
Conforme eu ia lendo o post, lembrei do filme Gataca e iria até citá-lo aqui no comentário, mas já vi que você já assistiu a esse filme e não acho um exagero você projetar isso.
E quantas pessoas poderiam ser consideradas com uma característica de violenta, mas simplesmente não desenvolveram isso?
Bjitos!
Rô Rezende disse…
*Lusinha*: O filme foi um dos que me marcou, eu sempre lembro dele quando vejo notícias do tipo.
Eu acho que eu seria considerada quase psicopata se mapeassem meu cérebro (vai ver por isso tanta revolta com a notícia..rs)
Bjos
Anônimo disse…
Estava discutindo sobre esse assunto com a minha irmã. Eu sou contra. É como você disse, isso vai acabar formando mais um motivo de preconceitos, como se isso fosse uma doença. É aquela velha história: "O homem é produto do meio".

Tbm acho que a vivência determina muito mais as caracteristicas de uma pessoa. É comprovado que o instinto também faz parte, mas acredito que o meio em que a pessoa vive determina muito mais.

Muito obrigada pela visita. Volte sempre.
Rô Rezende disse…
Camilla: Falou tudo!

O prazer é meu, e volte por aqui também!
Jacinta Dantas disse…
Ei menina,
que assunto sério você aborda.
Do pouco que sei, e sei muito pouco, penso que está passando da hora de nos darmos o cuidado necessário para que possamos Ser gente.
Estamos nos tratando como objetos,e objetos....
Um beijo
Anônimo disse…
Meu analista tinha me falado sobre isso... Achei horrivel, absurdo... Você nunca pode imaginar quando uma pessoa tomará uma atitude violenta ou não. Concordo com a sua posição.

:*
Rô Rezende disse…
Jacinta: Às vezes eu finjo que posso falar de coisas sérias! rs...sei muito pouco também, e concordo com você, se todo mundo se tratasse como gente o mundo ia ser um pouco melhor!
Bjo!

Ninguém: É! Uma pessoa pode ter instinto mais violento que outra, porém passar a vida inteira sem deixar que esse instinto aflore! Bjs
Anônimo disse…
Absurdo isso. E sabe porque disso? Porque as pessoas votam SIM? Porque são todos reféns do medo. Em vez de se preocupar em cuidar das causas sociais da criminalidade, vamos procurar algo fisico, para quem sabe podemos prender eles antes de cometerem crimes. Só por prevenção, sabe. Minority report, bem assim.
Mesmo que a verdade seja inventada - ou não -, a gente sempre encontra um alguém que sente o mesmo, ou pelo menos parecido.

Quanto ao teu post:
Com certeza seria mais um motivo para possíveis discriminações. Vai acontecer que toda a nossa vida irá ser mapeada por um computador e um pesquisador médico qualquer. Fugirá do controle. Haverá mais problemas, mais sangue, mais fogo, mais destruição interna em massa.
A índole não é hereditária, cada um possui a sua, própria, única. Todos nós temos acessos de raiva, até mesmo de ódio. Só que uns controlam, já outros... atiram para todos os lados – literalmente falando. Depende de quem é. Depende de quem cria, até. Ou não. Nada disso depende. Mas acho que não é saudável obter esse tipo de mapeamento de caráter. Pois caráter se aprende, ensina, e muitas vezes se muda. Melhora-se!

Se falei alguma bobagem, desconsiderem! :)

Um beijo e obrigada pela visita! Voltarei!!!
Ah! eu te linkei!
Espero que não tenha problemas...
tem?
Rô Rezende disse…
wakko: Minory Report é bem "Prevenir é melhor do que remediar", né? Bem lembrado...É muito mais fácil 'tratar' gente do que sociedade, né?

Fabíola Weykamp: Bobagem nenhuma, moça! Falou muito bem! Caráter não é uma coisa que vem marcada na gente quando nasce, o livre arbítrio existe!
Me linkar?! Se pode? É uma honra! Vou te linkar tmb! Bjs

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