Dinah

Acordei com um aperto no peito, natural, já que ao dormir havia nele um nó. Os olhos inchados e as lágrimas secas finalizaram o quadro, pintado por dores que não são minhas. Dores antigas, quase tão antigas quanto o Sol e a Lua. História já conhecida que, sem entender bem porque, decidi relembrar.
Não recordo bem se da primeira vez a história doeu tanto, mas hoje, depois de relembrar, não consigo tirá-la da minha cabeça, nem do meu peito e sei que esse aperto durará o dia todo. E mesmo que eu saiba que é uma história fictícia, ela me parece tão real quanto a comida que me sustenta.
A história me fez pensar nos meus antepassados, nas dores deles e no que sofreram. Nos sacríficios, nas saudades, nos amores e também na maldade. E, por mais que tente, não consigo pensar nas felicidades, nos sorrisos.
Samhaim se aproxima, e por mais que não me acostume aos festivais celtas, muitas culturas honram os mortos nessa data, sob diferentes nomes. Talvez seja isso que me impele a honrar a memória dos que já foram.
Quem sabe, se eu conseguir honrar adequadamente e lidar bem com essas dores que não são minhas, quando a roda girar e o dia dos mortos voltar, eu consiga sentir também as felicidades da vida deles.

A história que me aperta o peito vem do livro A Tenda Vermelha, de Anita Diamant. A primeira parte é a história da família de Jacó, filho de Isaac, neto de Abrãao (é, todos da bíblia) contada através dos olhos de sua única filha, Dinah, que teve quatro mães. A segunda é a vida adulta de Dinah, ainda narrada por ela.
Apesar do aperto no peito, eu recomendo para quem não se importa em chorar.

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