Última exibição
É no fim que ele começa, quando a cortina se fecha que o espetáculo dele toma forma. Recheado de beijos e carinhos, de flores e perfumes, atenção e aplausos.
Lá no fundo do palco, quase na coxia, que os segredos finalmente são sussurrados, que os sorrisos florescem entre lágrimas, que o calor envolve os beijos, os toques, os corpos. Só depois do final da peça que seus olhos se enchem de desejo, de um desejo desesperado, descontrolado, na verdade tudo calculado.
O protagonista se envolve em magia, se recheia de fantasia e a busca, ela, atriz principal. Ele revela promessas, cria juras, recita sonhos. Ela, frágil, se entrega a toda ilusão pós-espetáculo, se encanta, se permite envolver...se entrega.
Chega a hora de mais uma exibição, bilheteria esgotada, cadeiras cheias. As cortinas se abrem.A protagonista entra em cena, segue o roteiro, diz suas falas, canta sua canção, dá a deixa ao ator principal e... espera...ele não vem. Estático, atrás da cortinas, não dá um passo sequer em direção ao palco. Esqueceu suas falas? Tem medo do público? O teatro se cala, espera, ela se cala, espera, ele se cala, não se move.Decepcionado o público segue, quer de volta o ingresso. Decepcionada ela fica, quer de volta o coração. Devolve, moço, o coração dela. Caída no chão, ela olha o teatro, as cadeiras se esvaziando, cada rosto que se levanta a olha em mistura de pena e ódio. Mais uma vez não houve flores, nem mesmo aplausos, nem mesmo vaias. A platéia se foi silenciosa. Quando o último espectador deixa a cadeira uma lágrima escorre nos olhos da atriz, e depois outro, e logo uma enxurrada toma seu rosto. As cadeiras vazias se transformam em cacos, pedaços de um coração vagabundo, perdido na luz dos holofotes.Ela olha para ele, ele olha para ela. Em grito engasgado ela diz, DEIXARA O TEATRO.
Ele recomeça seu ato, corre ao encontro dela, busca seus beijos, diz que na PRÓXIMA EXIBIÇÃO SERÁ TUDO DIFERENTE, ELE FARÁ O QUE DEVE. TERÁ FLORES, CHOCOLATES, APLAUSOS.
Dessa vez ela não o olha, foge de seus abraços, corre de seus toques, não olha para os olhos castanhos que incedeiam do mesmo desejo.
Dessa vez o espetáculo não voltará a se repetir... as cortinas se fecharam, e ela não estará para a próxima exibição.
Comentários
adorei seu blog...
Bjus....Ariane da Facul..rsrs
MEU DEUS como vc escreve bem!!!
fiquei até arrepiada,faço teatro e já senti essa emoçao descrita na pele, mas vc escreve de um modo, como se eu estivesse lendo a obra de um "imortal"
PARABÉNS MESMO amei
Ps: agora estou curiosa da forma como vc disse que descobriu meu blog
abraço ;D
e PARABÉNS NOVAMENTE